A Era de Ouro das Telefonistas



''Las Chicas del Cable'' -  As primeiras telefonistas

Perdoem-me mas, tomei a liberdade de ''pegar emprestado''; o nome da série espanhola produzida pela Netflix para fazer uma ligação com o post (rs). Caso ainda não tenha visto a série, recomendamos! 
Mas... este artigo não se trata de ficção. Ele trás fatos e curiosidades poucos conhecidos sobre como era o trabalho das primeiras telefonistas e uma breve história do aparelho que ''ligou'' o mundo.
Portanto, continue lendo e veja fotos incríveis das operadoras, realizadas durante o trabalho nas centrais telefônicas da América e Europa no início da telefonia. As imagens mostram o dia-a-dia das jovens operadoras em seus postos, a frente de um emaranhado de cabos e botões dos painéis telefônicos. 
As telefonistas foram símbolo de uma época em que o trabalho feminino não era nada comum, essas mulheres fizeram parte da história que revolucionou o mundo dando início a Era das telefonistas. Com surgimento da nova profissão a empresa americana Bell System, declara o dia 29 de junho como o dia da telefonista - profissão mais cobiçada entre o final século XIX a meados do século XX  e exclusivamente feminina. 

Operadoras de telefone e telégrafo do Pacífico, ca. 1964-66

As telefonistas do Capitólio, Washington D.C , 1959.



Painéis da Chesapeake & Potomac Telephone Co. em Washington, DC, ca. 1919.




Operadoras diante do quadro telefônico, em Salt Lake City, ca.1914.
Durante um  período de aproximadamente de 50 anos, o profissão de telefonista foi executada exclusivamente por mulheres.

Operadoras de telefone e telégrafo do Pacífico, ca. 1900.


Telefonistas da Bell Telephone Company em Montreal, Canada, 1897.

Operadoras em treinamento, Denver, 1910.

Lisboa, 1928

Sevilla, Espanha (data não encontrada/aprox. anos 60)
Além do auxílio a lista, outro serviço muito comum prestado pelas telefonistas, era o de informar as horas. No alto, diante do painel, normalmente havia um grande relógio onde elas consultavam as horas e informavam aos usuários.


Os primeiros operadores (1876-77) eram meninos adolescentes, que muitas vezes se engajavam em brincadeiras e linguajar inapropriado. As empresas de telefonia logo começaram a contratar "meninas" para apresentar uma imagem mais gentil aos clientes.

Boston, 1878. [foto: "Bold Experiment-the Telephone Story"]

Em 1878, as primeiras mulheres operadoras, Emma e Stella Nutt, trabalharam junto a jovens  operadores em Boston. Um dos requisitos básicos para conquistar uma vaga na disputada profissão além da gentileza e da capacidade de manter-se calma e educada diante de situações inusitadas, a candidata deveria ter uma boa dicção, locução e habilidade para lidar com os equipamentos.
A primeira central telefônica do mundo entrou em funcionamento no dia 25 de janeiro de 1878, em Connecticut, nos Estados Unidos.
Um grupo de jovens telefonistas | cerca de 1900
A fim de convencer as famílias permitirem que suas filhas trabalhassem, as empresas de telefonia tinham uma encarregada numa função peculiar; ''loco parentis'', que significa "no lugar dos pais" e consiste na responsabilidade legal de uma organização ou de uma pessoa em assumir algumas funções e encargos que normalmente são atribuídos a um dos pais. Esta  operadora  exercia  uma atitude materna em relação às "meninas".

Denver, cerca de 1910.
Sala de descanso da Telefônica em Vidal, Espanha, 1928.
As companhias telefônicas dispunham de salas de descanso somente para mulheres. Nestes ambientes bem agradáveis como podemos ver nas duas fotos acima, as operadoras podiam descansar quando se sentiam mal ou mesmo quando precisavam de uma pausa.


Para aliviar a tensão do trabalho, a Colorado Telephone Company implantou um programa de exercícios físicos. Durante o trabalho, as operadores tinham um tempo reservado para praticar a calistenia, uma metologia de treinamento que tem como principal característica a realização de exercícios que utilizam somente o peso corporal.  Este grupo de trabalhadoras estão aliviando as tensões  no jardim do telhado da Central de Telefonia de Denver, em 1912.

 Painel de distribuição em Santa Fé, Novo México 1921.

 Champa Exchange, Denver, Colorado | cerca de 1930.

 Minneapolis, Minnesota. 1946

Telefonistas do Illinois Bell em Springfield, 1946.



Muito tempo antes do ''manda nudes'', o fato de ser telefonista aguçava o imaginário do interlocutor. As garotas eram constantemente cortejadas e muitas vezes assediadas. Jovem e solteira, a senhorita de voz simpática – eternamente invisível do outro lado da linha telefônica – suscitava fantasias entre os clientes. Nestas situações, as operadoras eram orientadas a darem respostas como: ''O telefone solicitado está ocupado, por favor ligue mais tarde.''
Conectadas com a moda, mesmo quando o uso do uniforme não era uma exigência, elas caprichavam no visual. Os cabelos sempre arrumados maquiagem e unhas feitas, estavam sempre impecáveis. Na foto acima, as meias ''bobby sox'' compunham o visual. Essas meias curtas até o tornozelo foi moda entre as adolescentes nas décadas de 1940 e 1950.

Operadores de longa distância em Omaha, Nebraska,1959.

 1970

Em resposta à legislação de igualdade de direitos, as companhias de telefonia começaram a contratar profissionais para empregos "não tradicionais". Isso significava que as mulheres poderiam se tornar instaladoras e técnicos de manutenção, enquanto os "meninos" poderiam ser mais uma vez operadores. 
Alô, alô Brasil!

A chegada do telefone no Brasil foi mais rápida do se imagina. 

Em 1876, o Imperador Dom Pedro II, tem o primeiro contato com o aparelho ''que falava sozinho'', durante a Exposição Internacional Comemorativa do Centenário da Independência dos Estados Unidos, realizada em 1876, na Filadélfia, Pensilvânia - (International Exhibition of Arts, Manufactures and Products of the Soil and Mine), onde conversou pessoalmente com Graham Bell,  maravilhado com  a criação de  Bell*, o monarca demonstra tamanho interesse que a primeira instalação de telefone no Brasil acontece justamente na residência do Imperador: o Palácio de São Cristóvão, hoje o Museu Nacional, no Rio de Janeiro.

Outra versão histórica diz que o primeiro telefone instalado em terras brasileiras, teria sido feita numa casa comercial chamada “O Grande Mágico”, de Antônio Ribeiro Chaves, no Rio de Janeiro, localizada no Beco do Desvio nº 86 (atualmente Rua do Ouvidor). A loja comercializava aparelhos elétricos e novidades, e o telefone ligava o estabelecimento ao quartel do Corpo de Bombeiros. Pouco tempo depois a loja instalou novas linhas, desta feita ligando o estabelecimento à Chefia de Polícia, à Corte e ao “Jornal do Commércio”. O telefone também foi instalado na Companhia Telegráfica Western, com linhas para seu uso interno.

A revolução causada pelo aparelho não seria completa sem uma rede telefônica para se comunicar. Então, 4 anos após a criação, o americano Charles Paul Mackie consegue a primeira concessão
para estabelecer essa rede em terras brasileiras. Em 1879, com a rede telefônica formada, Dom Pedro II autoriza por meio de um decreto imperial o funcionamento da primeira empresa de telefonia do País: a Telephone Company of Brazil, do mesmo Charles Paul Mackie e outros americanos. Dois anos depois, a Telephone Company of Brazil é instalada na Rua Quitanda, 89, no Rio de Janeiro. Com sede definida, a empresa de Charles Paul Mackie e outros americanos é a primeira companhia telefônica do Brasil. 

D. Pedro II mandou instalar aparelhos ligando repartições públicas ao Palácio da Quinta da Boa Vista (hoje Museu Nacional – UFRJ), em São Cristovão, à Quinta do Caju (Casa de Banhos de D. João VI, que abriga atualmente o Museu da Comlurb), e ao Palácio Imperial, em Petrópolis/RJ. Nessa cidade existe, um pouco antes de se chegar ao centro, uma ponte chamada de “Ponte Fones”, assim denominada em função de D. Pedro II ter mandado instalar ali uma caixa com um aparelho telefônico. Conta-se que os resultados do interesse de D. Pedro II pelo telefone ultrapassavam as fronteiras do império. O aparelho teria sido apresentado à Europa na Seção de Eletricidade da Exposição Universal de 1878, realizada em Paris, por interferência do imperador brasileiro.
Por decisão do Conselho do Estado, em 1881 resolveu-se que a exploração do telefone seria exclusiva do governo imperial, sendo este o responsável pela instalação do serviço em qualquer lugar do país. Passada uma década, em 1891, no início do governo republicano, os serviços de telefone foram distribuídos da seguinte maneira: o município cuidaria dos serviços municipais, o estado dos serviços intermunicipais e o governo federal dos interestaduais e internacionais.


 zoom
Lista e manual telefônico da cidade do Rio de Janeiro de 1905


A Guerra das Patentes

* Embora historicamente Alexander Graham Bell tenha sido considerado como o inventor do telefone, o italiano Antonio Meucci foi reconhecido como o seu verdadeiro inventor, em 11 de junho de 2002, pelo Congresso dos Estados Unidos, através da resolução N°. 269. 
Em 21 de junho de 2002, 10 dias depois da Resolução concedida à Meucci, o parlamento canadense aprovou unanimemente uma moção a Alexander Graham Bell, reafirmando o escocês como o inventor do telefone. A posição canadense é vista como uma resposta à ofensa à honra de Bell, que viveu no Canadá, país onde é muito celebrado.

Na década de 1860, o imigrante italiano, que já era pobre, caiu de cama após ficar gravemente ferido durante a explosão do barco em que viajava. Com as finanças cada vez mais escassas, sua esposa se viu obrigada a vender algumas patentes do marido. Nessa época, ela teria negociado inclusive um protótipo do telefone. Consta que Meucci vendeu o protótipo do aparelho a Bell nos anos 1870.
Recuperado, ele retomou os trabalhos de sua principal invenção, mas não tinha recursos para patenteá-la de forma permanente. Em 28 de dezembro 1871, ele entrou com um processo para registro da patente do “telettrofono”. Como não tinha dinheiro suficiente para registrar permanentemente sua invenção, fez o registro temporário enquanto procurava investidores.

O telefone foi objeto de uma grande disputa em torno de sua autoria. Graham Bell conquistou a primeira patente do dispositivo e foi o pioneiro a demonstrá-lo e levá-lo a um estágio comercial. Mesmo assim, houve 587 processos judiciais nos Estados Unidos, num período de 18 anos, contestando sua primazia.

São muitos os candidatos alternativos a inventor do telefone, e o engenheiro eletricista Elisha Gray, co-fundador  da Western Electric Manufacturing Company, seria mais um entre tantos. Gray chegou a submeter um aviso ao Escritório de Patentes americano uma espécie de rascunho provisório chamado de “caveat” , com desenhos da invenção, no mesmo dia em que o advogado de Bell deu entrada em seu pedido completo de patente.

Se Bell, Meucci ou mesmo Gray, fica difícil afirmar quem realmente foi o verdadeiro pai da invenção, mas a verdade é que o telefone, sem a menor sombra de dúvida, foi uma das, senão a maior criação da era moderna. Dos imensos painéis e sua infinidade de cabos, das gigantescas telelistas, às simpáticas e prestativas telefonistas, o bom e velho telefone deixou seu legado na história conectando pessoas ao redor do mundo, e hoje, a quase 150 de seu surgimento, não podemos se quer imaginar como seria a nossa vida sem ele. 




Referências de pesquisa:



Soul Retro

Muito obrigada por sua visita, espero que tenha gostado do viu por aqui e espero ter a honra de seu retorno. Sua opinião é muito importante, conto com seu comentário. Beijinhos.

2 comentários:

  1. Aeeeeeeee \o/ amei a materia!!! Las Chicas del Cable, não faziam idéia da importância desse trabalho para o futuro de nós mulheres <3

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    Respostas
    1. Não é! E o que achou daquela salinha opressora de descanso com piano?! ;)
      Obg pela visitinha. Xoxo.

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